(2015) Graxa - Aquele disco massa
Assim que lançou Molho, em 2013, em meio a ebulição da Cena Beto, Angelo Souza atraiu ouvidos curiosos. As vozes roucas e desafinadas, as guitarras fuzz com distorções que extrapolavam o limite permitido pelo bairro da Boa Vista, as letras crônicas, irônicas, cômicas e os órgãos gritantes. Desconsiderando as crises de ciúmes, infância conturbada e as overdoses de Kurt Cobain , Graxa tinha na mão a combinação perfeita que resultou na explosão do Nirvana na cena punk de Seatle.
Seria então a ausência de um canal de escoamento de mídia como foi a MTV para Seatle, em Recife, a culpada pelo não estouro de músicos de potencial como o caso de Graxa? Ausência de políticas públicas de incentivo ao consumo de música autoral local? Ou, como já dizem as redes sociais, a culpa é de Dilma? Talvez nunca saberemos a grande resposta dessas grandes perguntas deste grande mundo do ruóck. O que importa é que Angelo continua crescendo em meio a tanto acumulado de impossibilidades.
"Aquele Disco Massa" reforça ao que veio Graxa numa cidade que vinha se entregando ao obsoleto, numa eterna louvação, ao que Jeder Janotti Jr chama de A Maldição Mangue, mas não só como um mero integrante de cena e sim como artista próprio e independente de empacotamento midiático. E é em músicas como "Gengibre" e "Pesquisa institucional de mercado" que fica evidente o amadurecimento e ousadia da persona de um dos maiores cronistas que Pernambuco teve o prazer de parir. Desentoando ainda mais não só no cantar, mas no âmbito social de criticar sem ser piegas, roquear sem ser apelativo e, por que não, demonstrar sucesso no fracasso? Afinal o que é o fracasso numa sociedade que exalta o produto ao qual é submetido engolir sem sequer mastigar ou sentir ao paladar?
Se há algum tempo o rock foi criado num intuito de manifestação subversiva não só ao mercado musical, como também a sociedade acomodada, Graxa pode ser facilmente agraciado como o expoente necessário para a perpetuação do ideal rock num Recife, ainda sim, morno, que continua a vangloriar-se do que um dia foi o manguebit, mas parece desleixado quanto ao emergente atual. Careta, tradicional e sustentando algum tipo de conservadorismo. Por essas e outras, vivas à "Eu não Kiss" e à música que intitula o álbum, ambas com teor de crítica exatamente a esse comodismo. Aliás, viva o cd inteiro, que deve ser ainda o primeiro de uma leva de dois discos no mesmo ano, segundo o próprio Graxa.
★★★★★
Graxa
Aquele disco massa
2015
Independente
www.facebook.com/NegoGraxa