2012, No Ar Coquetel Molotov, Siba, lançando o tão aclamado "Avante" num show bastante enérgico e aplaudido, chama ao palco o tal produtor do seu disco para tocar consigo durante o restante do espetáculo que fechava a primeira noite do festival e foi assim que conheci Fernando Catatau, o homem por trás dos sotaques roucos, fanhos e desafinados que dão voz à Cidadão Instigado e o cara das guitarras mais alucinantes que já pude escutar.

Cerca de três anos se passaram entre o momento citado e o momento da publicação desse texto, desde então quem me conhece já deve ter notado o quão fã, não só da banda, como do próprio Catatau, me tornei.



Muito se falou de "Fortaleza" como uma referência aos primeiros discos, o "EP" de 1999 e "O Ciclo Da Dê.Cadência", lançado em 2002, e é bem verdade que, após o ensolarado "Uhuuu", de 2009, a banda volta com uma sonoridade mais pesada e menos eletrônica, porém não se sente o mesmo experimentalismo de 2002, e sim a sonoridade mais pop de 2009.

Em "Fortaleza", (substantivo e não nome próprio, como tanto ressaltam os integrantes) pouco se exploram as bruscas mudanças rítmicas e os vazios entre as letras, agora mais harmônicas com suas respectivas melodias, fenômeno que já vinha se tornando comum no decorrer dos álbuns anteriores, contudo tal ausência de experimentação ainda sim não chega a negativar o trabalho maduro e surpreendente que é a construção da figura da fortaleza da banda que, pela primeira vez em um álbum, conta com participações especiais, sendo a primeira as quase inaudíveis castanholas da dançarina cearense Lenna Beauty, e a segunda, a participação de Rodrigo Amarante na letra de "Land of Light" (Catatau já fez participação especial em projetos dos dois participantes. Fazendo trilha sonora ao vivo para a Lenna em um de seus espetáculos, e gravando guitarras para várias músicas do "4", disco de 2007 da Los Hermanos).


Se no "Uhuuu!" as letras deprês, melosas e caóticas de Catatau ganham uma pegada romântica do nordeste setentista com os teclados e guitarras de surf, em "Fortaleza" as guitarras mais distorcidas e a melancolia rítmica deixam ainda mais sufocantes os sentimentos aprisionados que, aos poucos se encaminham à explosão nas derradeiras "Green card" e "Quando a máscara cai", onde o tal Zé Doidin presente nos dois primeiros álbuns já citados, ressurge prestes a se perder, reacendendo uma busca pela identidade plena que vem sendo questionada pelas letras da banda desde seu primeiro álbum.

Em suma, este não é o melhor disco da banda, mas não por desmerecer boas classificações, mas sim pela reputação que os seus anteriores carregam. Fortaleza é o que tinha que ser para uma banda tal qual a Cidadão Instigado e seus integrantes com influências e experiências variadamente gritantes, mesmo quando coincidentes e isso não torna o disco previsível nem tampouco tedioso.

★★★★★
Cidadão Instigado
Fortaleza
download em: www.cidadaoinstigado.com.br
2015
Independente